Eu não vou deixar de cantar, é o que eu sei fazer.

Júlio Carneiro Lima, ou simplesmente Júlio Carneiro, é filho de Jovita Maria e José Carneiro Lima, e irmão do também poeta Moacir Carneiro. Nascido na zona rural da cidade de Crato-CE, no dia 20/07/1964, e atualmente residente no Distrito de Dom Quintino, Júlio Carneiro tem junto à Cantoria toda sua história de vida.

Júlio conta que sempre foi um amante da Cantoria, e que com apenas 8 anos idade pegava escondido o violão de seu irmão Moacir para tentar acompanhar os cantadores que ouvia na rádio. Júlio relembra que pegava o violão nas escondidas para que seu irmão não brigasse com ele, pois grande era o ciúme com o instrumento. Com o passar dos anos, Júlio Carneiro revela que já se encontrava dominando a viola e cantando de forma afinada, como ele mesmo diz. “Nunca ninguém me ensinou nem a cantar, nem a afinar viola, nem nada, quando ele [Moacir] deu fé, eu já estava afinando e tocando melhor do que ele”, brinca.

Seu avô também era Cantador, e todos os seus irmãos eram admiradores da arte, e por volta dos 20 anos de idade já se encontrava cantando diversos improvisos, mesmo sem ainda ter consagrado seu nome como Cantador. Júlio conta que nesse período arranjou inúmeros outros trabalhos, mas que nenhum foi de seu agrado, e que decidiu abandonar tudo para viver exclusivamente da arte da Cantoria. Nesse tempo, seu maior aliado foi o público. “quem bota o cantador no ramo é o povo, se você não tiver a veia poética você não consegue”.

Na sua opinião não se estuda para ser Cantador. Júlio Carneiro afirma que outras profissões exige uma formação escolar do individuo, o que não é o caso da Cantoria, para ele o Cantador nasce com o “Dom” da poesia. Porém, deixa claro que este “Dom” pode ser melhorado através do estudo, principalmente hoje, onde ele mesmo afirma que a Cantoria tem se inovado bastante, principalmente quanto ao seu público.

Júlio também se considera um bom cantador, mas afirma que esse título foi dado por seu público. Suas participações são sempre marcadas com uma data de retorno, e segundo ele, esse é o principal ingrediente para que o mesmo permaneça na profissão. E para ser um bom Cantador, Júlio diz que é preciso estar sempre atualizado com todos os acontecimentos. “Muitas vezes você pode chegar em um lugar que tenha pessoa forte ali, que pede pra você falar uma ‘coisa assim’, ‘fale nisso’, pra você falar num time assim… Você tem que pegar tudo, é tipo um caba curioso”.

Relembra que antigamente existiam muitos poetas que não tinham estudo e eram, como ainda são, considerados grandes Cantadores da história da Cantoria, diferentemente de hoje, onde os novos Cantadores procuram formações escolares e acadêmicas, até com a finalidade de aumentar seu repertório de conteúdos. Essa modernização não é, na sua opinião, um problema, pelo contrário, é importante que seja assim. Essa é, na sua opinião, a grande diferença das Cantorias de antes e as de hoje.

Revela ainda que Pedro Bandeira o ajudou muito no inicio da sua profissão, encaminhando-o para diversos festivais, onde coleciona inúmeros CD’s de suas participações. Além dele cita também o nome de outros cantadores que o incentivaram, como Os Nonatos, Francinaldo Oliveira e Zé Viola.

Para ele a grande maioria das cantorias estão concentradas na Zona Rural, local que ainda não há muitas formas de “entretenimento”, e onde ainda se encontram parte do público mais idoso, público este sempre fiel à Cantoria. Além disso, a informalidade dos encontros sempre fazem aparecer novas apresentações e convites, fazendo-os percorrer sempre outros espaços e comunidades.

Júlio Carneiro se descreve como um simples cantador de viola, querido pelo povo, e que não se curva para nenhum convite no qual é chamado a cantar, e acrescenta: “sou Júlio Carneiro, poeta cantador, sertanejo, pai de alguns filhos, lutador para sobreviver e querido pelo povo. A gente mesmo não pode se jugar, dizer que é o tal, quem diz é o povo, se você é um bom aluno o professor sabe”.

Júlio Carneiro finaliza dizendo que a cantoria não se acabará nunca, pois sempre morrerá um e nascerá outro. E completa: “eu tenho meu povo, e o povo sempre cobriu minhas cantorias. Não existe um ‘grandão’ no meio dos tais pequenos, todo mundo é igual na realidade”.

IMG_5004 (Cópia Editada)

(A entrevista aconteceu no dia 27/09/2018 na residência do poeta Chico Pereira, no Distrito de Dom Quintino/Crato – CE, para o projeto De Repente em Ação)

Contato do poeta para shows: (88) 99817.9678