A viola eu só desprezo quando morrer.

“Evaldo Guilherme” é o nome artístico do poeta Manoel José de Matos Sobrinho. Nascido em 4 de dezembro de 1941, no sítio Antas, em São José dos Piranhas-PB, é filho de Maria Joaquina de Matos e Raimundo José de Matos. Atualmente reside em Juazeiro do Norte-CE, onde construiu uma trajetória rica na Cantoria de Viola.

A paixão pela música e a vontade de ser cantador impulsionaram Evaldo a iniciar sua carreira. Desde jovem, teve a oportunidade de assistir às performances de grandes poetas, como Manuel Galdino Bandeira, avô dos poetas Pedro, João, Francisco e Daudeth Bandeira, além de muitos outros. Esse contato foi possível porque a casa de seu pai servia de ponto de encontro para muitos cantadores, o que alimentou seu desejo de seguir essa profissão.

Durante as colheitas de algodão, enquanto trabalhava no roçado, Evaldo improvisava versos para seus amigos, mesmo sem ter uma viola. Apesar dos deboches que recebia, continuou sua trajetória, possuindo uma viola apenas muitos anos depois. “Fui continuando e já depois de uma idade mais avançada foi que eu comecei a pegar a viola, e daí pra cá não parei mais não. Não sei mais nem quantos anos que eu comecei, porque faz tempo“, reflete. Hoje, sua única profissão é cantador, embora ocasionalmente trabalhe como pedreiro.

O nome artístico “Evaldo Guilherme” tem uma origem pessoal: “Guilherme” homenageia seu avô paterno (Guilherme de Matos), enquanto “Evaldo” foi atribuído por uma vizinha durante sua infância em São José dos Piranhas. Ela o chamava assim, aparentemente sem razão, e ele passou a adotar esse nome nas cantorias.

Para Evaldo, ser um bom cantador é algo que vem de dentro, é um dom natural. Ele observa que muitos de seus familiares, com alto grau de escolaridade, não conseguem produzir versos, enquanto ele, que nunca frequentou a escola, é capaz de improvisar. Apesar de se considerar um poeta “pequeno“, não recusa a oportunidade de cantar com qualquer cantador.

Evaldo nota que as cantorias de hoje não diferem muito das realizadas décadas atrás, embora sinta falta das longas noites de música. Anualmente, ele organiza uma grande cantoria em sua casa, um evento que já se tornou tradicional. Essa iniciativa surgiu da sua vontade de oferecer espaço para cantadores menos conhecidos, que ele chama de “cantadores pequenos“, incluindo-se entre eles. O encontro é aberto ao público, e todos os participantes são remunerados e recebem troféus. “Aqui vem cantador de Petrolina, Juazeiro da Bahia, Paulistana, Padre Marcos, Picos, Campos Sales, Fortaleza, Iguatu, Barro, Mauriti, tudo vem por aqui. Eu já fiz cantoria até com 32 cantadores“, conta com orgulho.

Evaldo acredita que a relação do público com a cantoria tem mudado, especialmente nas áreas urbanas. Ele considera que o melhor lugar para essa arte é na Zona Rural, onde ainda há espaço para eventos sem a competição de entretenimentos urbanos, como TVs, casas de shows, shopping e outros. Em contrapartida, em cidades como Crato, ele e o cantador Raimundo Vieira costumam visitar restaurantes e churrascarias, onde são bem recebidos. “ EmJuazeiro não dão não, aqui você pode passar com a viola daqui para a matriz, ir e voltar, que não tem apoio“, lamenta.

Embora não tenha trabalhos gravados sob seu nome, Evaldo possui uma coleção de CDs e DVDs de festivais em que participou, principalmente ao lado de Zé de Freitas.

Para finalizar, ele expressa seu amor pela arte e sua disposição: “A gente vai ficando velho e vai esmorecendo. Mas eu não estou esmorecido ainda, graças a Deus“.

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(A entrevista aconteceu no dia 05/06/2018 em sua residência, em Juazeiro do Norte-CE, para o projeto De Repente em Ação)

Contato do poeta para shows: (88) 99697.7528