Sou poeta porque nasci para ser.

Beija-Flor, ou Valdevino Vicente do Nascimento (nome de batismo), nasceu em 22 de outubro de 1941, no distrito de Santa Cruz, na cidade de Aurora-CE. Filho de Iracema Maria de Jesus e do cantador Raimundo Vicente Santana, conhecido como Borborema do Norte, Beija-Flor, aos 77 anos (no ano desta entrevista), já deixou sua marca na história da cantoria.

Desde cedo, a influência do pai foi significativa, embora Borborema não desejasse que Valdevino seguisse a mesma profissão, considerando-a insatisfatória. Valdevino, em sua curiosidade, questionava o pai: “Se a profissão não serve, porquê o senhor não abandona?“, ou ainda: “Porque o senhor quer pra si uma profissão que não serve?“, e sempre recebia a mesma resposta: “é meu filho, eu comecei e não deixo mais não“. De fato, assim permaneceu Borborema até a sua morte.

Aos 18 anos, Valdevino decidiu fugir de casa para o estado do Maranhão, trocando um cavalo por uma viola, onde permaneceu por 18 meses. Durante esse tempo, a cantoria lhe trouxe recursos suficientes para comprar uma casa para o pai e outra para si, um feito que concretizou ao retornar a Aurora por volta de 1960. Esse sucesso na profissão lhe garantiu a aprovação do pai, e logo formaram uma dupla. Beija-Flor relembra que juntos cantavam diversas modalidades, exceto o desafio, independentemente do quanto o público pedisse, devido ao respeito mútuo que existia entre eles: “uma coisa que a gente não cantava era desafio. Eu respeitava o meu pai e ele me respeitava também, graças a Deus“.

O nome artístico “Beija-Flor” surgiu de uma brincadeira entre amigos de seu pai, que procuravam um cognome relacionado ao dele. Assim, Beija-Flor se tornou um símbolo da dupla, já que “Borborema” também remete a um pássaro do sertão. Foi aí que surgiu a dupla Beija-Flor e Borborema.

Beija-Flor encerrou sua profissão no ano de 2017, após 30 anos de profissão, cantando pela última vez na cidade de Natal-RN. O motivo foi problemas de saúde, especialmente relacionados à visão, impedindo-o de continuar atuando profissionalmente na cantoria. Com a despedida dos palcos, Beija flor conta com muita tristeza que despediu-se também de sua viola, dando-a para seu filho, um cantor: “dei ao ‘menino’, ele pegou, entrou no carro dele aqui e eu fiquei com as lágrimas descendo”, e se recorda que fez um último pedido: “zele minha viola“. Mas completa: “Dei e não me arrependi, porque se era de dá a outro ou vender, eu dei para ele que tá em casa“, e que se tivesse condições físicas, ainda estaria cantando.

Afirma que seu público o considerava um grande cantador, e que isso só aconteceu porquê esse mesmo público deu a cobertura necessária ao seu nome. “Se ele for cantador e não agradar ao povo, nada feito, não é cantador” – falou referindo-se a si mesmo.

Beija-Flor mudou-se para a cidade de Juazeiro do Norte há cerca de 10 anos, onde mora atualmente. Trabalhou com programas de cantoria em várias rádios, como na Rádio Progresso, em Juazeiro do Norte, ao lado do Cantador Moacir Carneiro, na Rádio Iracema (Juazeiro do Norte) e, por dois anos, na Rádio Iracema de Fortaleza-CE.

Possui alguns trabalhos gravados ao lado do poeta Silvio Grangeiro, Zé de Caldas, Moacir Carneiro, Zé de Freitas, Zé Francisco e outros cantadores, e possui um trabalho gravado em fita cassete com o cantador Valdir Palmeira.

Beija-Flor concluiu a entrevista dizendo que o verdadeiro motivo dele ser um poeta é porquê “é um dom de nascimento que vem do meu pai e do meu avô, é chave de sangue. Sou poeta porque nasci para ser, Deus me deu esse entendimento e eu dei para a profissão, graças a Deus“.

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(A entrevista aconteceu no dia 06/09/2018 em sua residência, em Juazeiro do Norte-CE, para o projeto De Repente em Ação).