Graças a Deus onde passei só deixei alegria.

Francisco Pereira de Andrade, conhecido como Chico Pereira, nasceu em 2 de agosto de 1951, na cidade de Crato-CE, no sítio Lagoa dos Faustinos. Filho de Cecília Maria de Souza e Nelson Pereira de Souza, atualmente Chico reside no distrito de Dom Quintino, na cidade de Crato-CE.

Durante sua infância, Chico Pereira trabalhava nos campos de algodão e, achando o trabalho leve, costumava brincar de compor versos enquanto cumpria suas obrigações no campo. Essa atividade não apenas tornava o trabalho mais divertido, mas também despertava seu talento para a poesia. Além disso, ele conta que decorava com facilidade as letras que ouvia nas cantorias que frequentava: “eu via aquele movimento, aí quando eu vinha no caminho eu já decorava o que eles cantavam, daí já vinha cantando”. Foi assim que ele descobriu, por conta própria, que possuía o Dom da poesia.

Com aproximadamente 16 anos, Chico Pereira já era um frequentador assíduo das cantorias na sua localidade. Desde cedo, ele se envolveu no ambiente das apresentações, onde se destacavam poetas como os irmãos Bandeira: “As primeiras cantorias que comecei a assistir foram dos Bandeiras, inclusive o Pedro ainda é parente dos meus pais”. Foi através desse contato com as cantorias que, aos 18 anos, Chico Pereira comprou sua primeira viola e deu início à sua carreira como cantador.

Chico Pereira acredita que um bom cantador deve ser reconhecido e aclamado pelo público, e não se autoafirmar como um grande artista. Ele destaca que sua imagem e sucesso sempre foram moldados pela recepção calorosa de seu público, fundamental para a sua trajetória na cantoria. “Graças a Deus, onde eu faço meu trabalho, Dom Quintino fica bem representado”.

Atualmente, Chico Pereira não exerce a Cantoria como sua principal profissão; dedica-se quase exclusivamente aos trabalhos da igreja que frequenta. No entanto, ele não abandonou completamente a viola e sempre improvisa versos em celebrações especiais. “Quando tem, assim, um aniversário de um crente, uma festividade assim, eles me mandam cantar uns repentes”, conta. Normalmente, ele se apresenta ao lado de José Duda, violeiro evangélico da cidade de Crato, e juntos costumam cantar temas relacionados aos ensinamentos bíblicos.

Para Chico Pereira, as diferenças entre as cantorias de hoje e as de algumas décadas atrás não são tão marcantes. Ele acredita que ainda há muitas duplas talentosas na profissão e que, para ser um bom repentista, é fundamental ter conhecimento. Segundo ele, quanto mais conteúdo um cantador dominar, maior será seu sucesso, destacando que, com a internet, o acesso ao conhecimento se tornou muito mais fácil.

Ele recorda um momento interessante de sua carreira: com a chegada da televisão, a Cantoria começou a perder parte de seu público, um processo que se intensificou com a popularização dos celulares, afirmando que as pessoas passaram a buscar entretenimento nos aparelhos, deixando a Cantoria e outras práticas da cultura popular de lado. Em contrapartida, Chico reconhece que tanto a TV quanto a internet ajudaram a divulgar a imagem dos cantadores, permitindo que os poetas conquistassem novos espaços.

Chico considera fundamental tratar da Cantoria e da Cultura popular nas escolas. “É muito importante porque é uma grande culturas, e eu acredito que ela vai muito na mente das pessoas, eu acredito que quem só escuta esses ‘sonzão’ não colhe o tanto que colhe com o que os poetas estão cantando”. No entanto, ele lamenta que essa interação não ocorra com frequência. “Faz uns 10 anos que uma diretora de uma escola me chamou para uma apresentação. É uma raridade”.

Ele também critica a falta de apoio das políticas públicas para a cultura dos poetas, lembrando que o maior engajamento aconteceu durante os festivais que ocorria no Cariri. Embora não tenha CDs ou DVDs gravados, ele menciona que seus irmãos de igreja desejam que ele grave um CD com temáticas gospel, mas prefere ser cauteloso, aguardando uma confirmação divina sobre essa decisão.

Chico tem outros familiares poetas, especialmente na Paraíba, a terra natal de seus pais. Ele participou de muitos programas de rádio ao lado de poetas renomados, como Pedro Bandeira e Zé Ari, que costumava cantar uma de suas canções: Não vendo mais boi de carro.

“Sou poeta porque Deus quis, e eu não podia interferir”. resume Chico Pereira, refletindo sobre sua trajetória na poesia, que considera muito feliz. Apesar de a Cantoria não ser mais sua profissão principal, ele se mantém ligado a ela e afirma: “uma coisa muito importante que aconteceu na minha vida é que, onde fui, eu soube entrar e soube sair”.

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(A entrevista aconteceu no dia 27/09/2018 em sua residência, em Dom Quintino; Crato-CE, para o projeto De Repente em Ação).

Contato do poeta para shows: (88) 99734.7811