Ando por aí levando a cultura para muitos que não a conhecem e semeando a planta da cantoria por aí a fora.

Antônio Félix Ferreira, ou apenas Antônio Ferreira (como é conhecido), é filho de Gerson Félix Ferreira e Maria Ferreira de Lima. Nascido no dia 23 de Dezembro de 1958, no Sítio Cruzinha, município de Barbalha – CE, onde ainda reside.

Teve os primeiros contatos com a cantoria ouvindo os poetas Pedro Bandeira, Lourdes Novaes, Ivanildo Vila-Nova , Moacir Laurentino e Sebastião da Silva nos programas de rádio e televisão. Aos 10 anos de idade já ajudava seus pais nos trabalhos da roça, e, nesse período, começou a florescer o espírito da poesia, como ele mesmo relata: “quando a gente tava nas sombras do meio dia, e via aqueles pássaros voando ‘pralí’ nas sombras, eu me pegava fazendo uns versinhos com aqueles pássaros, com as cores deles”.

Quando completou 18 anos, sua mãe o quis levar para a cidade de São Paulo com a proposta de um casamento arranjado. Entretanto, Antônio Ferreira se negou, decidindo permanecer no sertão da Paraíba (nesse tempo estavam morando na zona rural do município de Cachoeira do Índios), onde casou-se logo em seguida, com uma moça da localidade que já era de seu interesse.

Em 1980 já se via cantando os poemas do cearense Expedito Sobrinho, até então vereador de Cajazeiras-PB. Por cantar bem seus poemas, e com falecimento do mesmo em 1981, decidiu dedicar-se à profissão de cantador em 1982, fazendo alguns baiões de viola, inspirado também nos poetas que ouvia nas rádios.

Antônio Ferreira também teve herança familiar de cantadores, como seu avô materno, Antônio Gavião Ferreira, e um outro parente do lado paterno, chamado Zé Félix Sobrinho. Segundo Antônio Ferreira, este último não era um poeta de muita caligrafia, mas era o que ele vai chama de “um poeta dos sertões“, e que apesar de não se preocupar muito com as regras, compondo as poesias de forma “matuta“, o inspirou igualmente.

Em noites de renovações, tanto em Pernambuco quanto na Paraíba, teve a oportunidade de cantar ao lado de grandes poetas, como João Amaro, Vicente Correia e Pedro Bandeira, e foi nessas cantorias que o poeta diz ter iniciado seu verdadeiro aprendizado. Segundo ele, Pedro Bandeira foi um grande professor da poesia, ensinando-o muito. Revela que num determinado momento, após uma noite sem muito rendimento, quis desistir da cantoria, mas foi incentivado pelo próprio Pedro a continuar, dizendo que “pra ser cantador é preciso ser querido, ter sorte e ter coragem pra enfrentar a luta da cantoria. Um dia estaremos na baixa outro na alta até o dia que a natureza permitir“. Após isso, sentiu-se motivado a continuar na profissão.

Como passou boa parte da infância ajudando seus pais na roça, conta que não teve muitas oportunidades de escolarizar-se, concluindo somente a primeira série: “Eu me tornei um poeta analfabeto. Eu não tenho muita caligrafia, mas devido o conhecimento dos outros, e de muitas explicações de pessoas sábias que desejam o bem, que quer que o outro cresça, me ajudam e me auxiliam de muitos os lados, porque quando a gente vai numa cantoria que lá tem muita gente sábia, de alta caligrafia, professores e pessoas que entendem mais que a gente, os nossos amigos que quer que a gente cresça, dá umas aulas no carro: ‘fala aí assim, assim’, ‘tem que limpar mais os versos’, ‘a gente tem que levar as palavras no plural, e tal’… isso mais no inicio, hoje já tô mais na prática de poeta, tô sabendo mais ou menos, mas ainda falta légua e meia pra mim aprender, todo o dia que passa tem novidade“.

Segundo o poeta, a cantoria do presente em relação à do passado mudou muito, isso porque “os cantadores se reuniam nas festas dos sertões — renovações, casamentos, aniversários — e lá se reunia numa boca de noite — num casebre — umas 200 pessoas que vinham de carroça, jumento, a pé, de bicicleta, vinha gente de todo jeito, légua e légua e meia a pé. Tinha gente que vinha 12 quilômetros assistir dois cantadores de viola, uma viola com quatro cordas, uma afinava e a outra não, e o ‘caba’ saia com a bolsa cheia de dinheiro”. Relata que os melhores cantadores iam a cavalo, e ele, como não tinha muitas condições financeiras, ia a pé, mas ressalta que era recebido da mesma forma pelo responsável da festa. Hoje, o poeta diz que existe um largo crescimento do forró e outros estilos musicais, e isso tem dificultado o trabalho dos poetas porque tem levado o povo a esquecer das antigas tradições.

Num outro momento ressaltou que “as cantorias ainda estão na mesma lógica do passado. Elas são mais queridas e mais apoiadas na zona rural, onde ainda tem as renovações, aqueles aniversários e aquele povo da terceira idade em diante. Hoje as pessoas jovens não se dirigirem no caminho de dar acesso à cultura e abrir espaço”.

Atualmente o poeta possui um programa de Rádio na Caldas FM em Barbalha ao lado de Canarinho e Zé Ari, programa este intitulado de Viola da Minha Terra, todos os dias das 06:00 às 07:00 da manhã. Além disso, se faz também presente, desde 1999, no Balneário Caldas, localizado entre os municípios cearenses de Barbalha e Jardim, nos feriados e finais de semana. Lá, o poeta caminha pelos banhistas fazendo versos e entretendo o povo com sua arte.

Confessa que hoje faz menos cantorias nas noites porque seu corpo já não suporta mais a rotina e porque hoje outras tradições ocuparam o cenário de lazer musical da região, e adverte: “O repente é como uma semente, se ninguém ‘agoar’, ela morre”.

Finaliza a entrevista agradecendo aos seus ouvintes e ao povo de Barbalha que participa de suas cantorias e ouve seu programa de rádio. Agradece à prefeitura por ceder espaço no Caldas para realizar seu trabalho sem cobrar entrada. “Como cantador de Barbalha, graças a Deus, vivo da viola. Sou muito querido pelo público e agradeço muito a Deus”.

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(A entrevista aconteceu no dia 23/10/2017 em sua residência no município de Barbalha – CE para o projeto De Repente em Ação).

Contato do poeta para shows: (88) 99726.0652