A poesia veio na irmandade, é genético.

Francisco Bandeira de Caldas, carinhosamente conhecido como Chico Bandeira, nasceu em 18 de dezembro de 1942, na cidade de São José dos Piranhas-PB, no sítio Boa Vista. Filho de Maria de França Bandeira e Tobias Pereira de Caldas, atualmente reside em Juazeiro do Norte-CE.

Desde pequeno, Chico foi imerso em um ambiente familiar rico em Cantoria. Seu avô, Manoel Galdino Bandeira, foi um dos grandes Cantadores de sua época, influenciando diretamente a formação poética de seus netos:: Pedro, Chico, João, Daudeth e Antônia Bandeira.

Chico relata que a presença marcante da Cantoria em sua casa moldou sua trajetória. Seu irmão mais velho, Pedro Bandeira, foi o primeiro a seguir a carreira de Cantador, e Chico, o segundo, sendo ele precedido pelos demais irmãos.

Com apenas 17 anos, ainda em São José dos Piranhas, Chico começou a cantar ao lado de Pedro, permanecendo nessa parceria por cerca de cinco anos. Em seguida, aos 22 anos, começou a se mudar frequentemente, passando por cidades como Patos e Souza, na Paraíba, e Caicó, no Rio Grande do Norte. Ele explica que essa vontade de explorar novas localidades o levou a conhecer diversos estados, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.

Chico é o autor de uma canção icônica que fez sucesso na década de 70 em Crato-CE: o tema da Exposição do Crato (ExpoCrato). O refrão, que diz: “Venha para a exposição do Crato / os bancos asseguram seu contrato”, foi criado para destacar a presença dos bancos na feira, com o intuito de atrair o público, reforçando a ideia de que as instituições financeiras facilitariam as transações.

Embora a Cantoria permaneça como sua profissão, Chico também se dedica à gravação de jingles e comerciais. Ele comenta: “De qualquer tipo de comércio eu faço comercial; propaganda… E também faço as cantorias, dependendo da distância e a cidade“.

Considera-se um bom repentista, ou, como ele mesmo afirma, um Cantador que se encaixa entre os “mais aceitáveis”. Segundo ele, sempre conseguiu tirar “boas notas” por onde passou, chegando a conquistar inúmeros festivais. O segredo para ser um bom repentista é, na sua opinião, ter antes de qualquer coisa o “dom da poesia”. Esse dom, afirma ele, é conquistado a partir da influência do meio no qual se vive e pelo “preenchimento” desse dom com leituras e estudos sobre assuntos diversos.

le ressalta uma diferença marcante entre as cantorias de hoje e as de antigamente: “um cantador, antigamente, para poder se destacar bem, precisava cantar mesmo. Hoje, qualquer um diz que faz um verso aqui, acolá, mas às vezes não sabe lhe responder nada”, e complementa: “não basta ser doutor. Se fosse assim, todo garoto que arruma um diploma era um repentista, né? tá na cara que tem que ter o dom para ser um repentista, se não tiver, não é“.

Apesar de seu talento e reconhecimento, Chico não possui formação superior, ao contrário de seus irmãos. Ele afirma ter sido moldado pela curiosidade e se define como “um repentista desaforado, que sabe por onde passa toda a malandragem, capaz de segurar qualquer ‘rei’ pela mão“.

Entre suas diversas experiências, comandou o programa Cantadores do Brasil na Rádio Nacional, em Brasília-DF. No entanto, ele sempre sentiu que seu lugar era no Nordeste, o que o motivou a se estabelecer definitivamente em Juazeiro do Norte-CE.

Chico encerra sua reflexão com uma autoavaliação: “Chico Bandeira é este que vos fala, com mais de setenta anos, mas que para mim ainda é um garoto. Crescendo e sem me entregar. A voz tá boa, a mente firme e a resposta ainda sai em cima da fivela, como diz o sertanejo“.

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(A entrevista ocorreu no dia 04/10/2018 na residência do poeta, para o projeto De Repente em Ação)