Não posso mais abandonar a viola, por que se eu abandonar a viola o pessoal me abandona.

Raimundo José Vieira, filho de Cecília Rodrigues Vieira e José Vieira Filho, nasceu em Solonópole – CE, no dia 14 de abril de 1950. Hoje, aos 68 anos, ele faz da cantoria sua única profissão.

Popularmente conhecido como Raimundo Vieira, ele começou a se dedicar à cantoria aos 32 anos, influenciado por parentes que também eram violeiros. No entanto, ele acredita que já nasceu com o dom da poesia e que, mais cedo ou mais tarde, independentemente de influências familiares, sua arte se manifestaria de maneira intensa. Com 36 anos de carreira como cantador profissional, ele afirma: “a viola já me deu muitas coisas, o pessoal tem muita consideração por minha viola, então não posso mais abandoná-la”.

Raimundo destaca: “se a pessoa não nascer com o dom da poesia, ela pode ser juiz, promotor, pode ser o que for; pois não cantará que nem nós” Ele enfatiza que, além do talento natural, é necessário estudar para se tornar um bom cantador, pois isso enriquece o repertório e aprimora a pronúncia. Para ele, isso é parte do que chama de “a prática do dom”.

Ele observa que, embora fosse comum se apresentar em zonas rurais, hoje vários fatores afastam os cantadores dessas localidades. A falta de um bom inverno e a diminuição do público, que muitas vezes é composto por pessoas idosas, são algumas das razões. “Hoje, a maior parte não se ‘interte’ muito com a cultura; quem se ‘interte’ com a nossa cultura é o pessoal mais maduro, os aposentados”. Por isso, Raimundo tem se apresentado frequentemente nas romarias de Juazeiro do Norte e semanalmente em Crato – CE, em lanchonetes e pousadas. “O lugar mais cultural que já vi até hoje se chama Crato”, revela.

Ele também participa de diversos programas de rádio, incluindo as rádios Progresso e Iracema, em Juazeiro do Norte – CE. Atualmente, apresenta o programa “Toada, Canção e Poesia” na rádio Verde Vale, todos os dias, das 16:00 às 16:30, ao lado do poeta Zé Ari. Esse espaço é importante para divulgar a cantoria e promover a imagem dos poetas.

Raimundo tem se apresentado em muitas escolas na região do CraJuBar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha), onde é convidado a mostrar tanto a arte do repente quanto do cordel. Ele afirma: “É muito bom para divulgar. O aluno, através de um verso nosso, às vezes se forma com a nossa poesia. Às vezes, vai decorando aquilo ali e escrevendo e, amanhã, se transforma num doutor através de uma poesia de um cantador”. Isso acontece, segundo ele, porque o poeta traz consigo uma rica bagagem de informações que compartilha em seus versos improvisados.

Por outro lado, lamenta a falta de apoio das políticas públicas para a cultura repentista, que, segundo ele, é “zero”. Embora tenha sido convidado para eventos políticos, a cantoria frequentemente não se concretiza.

Atualmente, Raimundo possui um CD solo e participou de outros CDs e DVDs de festivais. Além disso, ele é autor dos livretos “Viagem Sofrida” e “Milagre do Padre Cícero” (sobre uma criança que caiu em um cacimbão).

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(A entrevista aconteceu no dia 12/04/2018 na rádio Verde Vale, em Juazeiro do Norte – CE, para o projeto De Repente em Ação).