O Cantador Repentista é a mola principal da Cultura.

José de Freitas Sobrinho, conhecido como Zé de Freitas, nasceu em 17 de janeiro de 1956 no município de Várzea Alegre, Ceará, na comunidade do sítio Gangorra. Filho de Odete Mendes de Freitas e Miguel Lourenço de Freitas, o poeta, atualmente com 62 anos, reside em Juazeiro do Norte, local onde deu início à sua trajetória na Cantoria.

Desde a infância, Zé de Freitas esteve em contato com a cantoria, ouvindo as histórias de seus pais sobre seu avô, um cantador, e seu irmão Antônio de Freitas, um renomado cantador da época. Ele relembra que, embora ainda jovem e sem habilidades para improvisar versos, já gostava de escrever algumas estrofes enquanto acompanhava seu irmão nas apresentações.

Aos 28 anos, mudou-se para a cidade de Juazeiro do Norte, Ceará, onde começou a frequentar cantorias locais, especialmente as que contavam com a presença do poeta Silvio Grangeiro. Durante uma dessas cantorias, Zé de Freitas se apresentou a Silvio Grangeiro como irmão de Antônio de Freitas. Questionado se também cantava e respondendo negativamente à pergunta, Silvio o convenceu a subir ao palco e cantar com Antônio de França — poeta que o acompanhava naquela noite. O resultado foi tão positivo que Silvio o convidou para formar dupla em outras cantorias e fazer algumas participações em seu programa de rádio.

Foi a partir desses encontros que Zé de Freitas iniciou sua atuação no mundo da cantoria. Contudo, nunca fez da cantoria sua principal profissão, priorizando seu trabalho como caminhoneiro. “Nunca fui cantador profissional devido a minha profissão. Fui motorista durante um bom tempo. Tenho medo de marcar uma cantoria hoje e no outro dia não estar aqui, pois trabalho viajando com caminhão. Sempre cantei assim: chegava na cantoria, ia assistir, participava e cantava com eles. E através de Silvio comecei a participar dos festivais, mas nunca assumi profissionalmente por causa do tempo. Inclusive, nem viola eu tenho. Quando eu vou para uma cantoria eu chego lá, pego a viola de um parceiro e canto”.

Atualmente, Zé de Freitas é motorista de ônibus em Juazeiro do Norte, e essa relação entre sua profissão e a cantoria rendeu muitas histórias curiosas. Relembra que frequentemente utiliza sua experiência como motorista em seus versos para levar alegria, como no que diz: O mundo é minha morada / E o caminhão é meu trono / Vivo nessa correria / Perdendo noites de sono / Com 10% da renda / Porque noventa é do dono.

Relata que embora não tenha frequentado a escola, é capaz de discursar sobre diversos temas e acredita que isso é um dom divino. “Parece que Deus abre a mente e faço tranquilo, como quem sei de tudo. Eu acredito que é um dom que Deus deu para quem nasceu com aquele dom, com aquela veia poética”. E ressalta que: “Você pode ser doutor, formado em tudo, se você não tiver a veia poética, você não faz uma poesia”.

Zé de Freitas observa que, embora existam poucas diferenças nas cantorias de hoje em comparação com as de décadas passadas, a principal mudança é a tecnologia de gravação, que possibilita registrar quase tudo. Antigamente, as rimas eram improvisadas e muitas se perdiam. Hoje, com um celular, é possível gravar todo o show, “exigindo que o poeta capriche mais no verso”, comenta com bom humor.

Ele também menciona que a maioria das cantorias ainda ocorre na zona rural, onde a população valoriza mais essa forma de arte. “O povo do sítio gosta mais. A maioria do povo da cidade gosta mais dessas coisas de hoje – de forró – mas mesmo assim ainda funciona na cidade, mas a maioria mesmo é na zona rural, o povo de lá gosta muito da cultura”. No entanto, lamenta que as cantorias não ocorrem com a mesma frequência de antes.

Zé de Freitas reconhece que há apoio de algumas políticas públicas para a arte da cantoria, mencionando que alguns prefeitos de Juazeiro incentivaram festivais organizados por Silvio Grangeiro e outros líderes políticos. Ele acredita, no entanto, que esse apoio poderia ser ainda mais efetivo.

Em seu histórico, Zé de Freitas acumula diversos CDs de suas participações em festivais, além de um DVD gravado em uma dessas ocasiões. Ao final da entrevista, ele afirma que não se considera o maior repentista, pois somente Deus é grande, e conclui: “mesmo sem ter estudo, sem viver da profissão, aonde eu canto o povo me aplaude”.

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(A entrevista aconteceu no dia 05/06/2018 em sua residência, em Juazeiro do Norte-CE, para o projeto De Repente em Ação)