Só deixo a profissão quando morrer.

Joaquim Alves Vieira, ou simplesmente Joaquim Alves, nasceu em 1º de novembro de 1945, no distrito de Riacho Verde, em Mombaça-CE. Filho de Raimunda Vieira da Conceição e José Alves de Souza, reside atualmente em Juazeiro do Norte-CE.

Desde jovem, Joaquim se encantou com a cultura da Cantoria. Aos 12 anos, mudou-se com sua família para o distrito de Ouro Branco (hoje Amaniutuba), em Lavras da Mangabeira-CE. Na nova localidade, começou a ouvir os Cantadores que se apresentavam nas rádios, alimentando em si um profundo desejo pela arte da improvisação. Frequentando eventos de cantoria, ele sonhava em também se tornar um Cantador, como ele mesmo recorda: “Eu era menino, e enquanto os cantadores estavam cantando eu ficava naquela média, com aquela vontade de cantar também, e assim eu ia para as cantorias“.

Aos 19 anos, impulsionado por poetas que o encorajavam, Joaquim decidiu seguir a carreira como cantador. Comprou um violão e começou a cantar, rapidamente recebendo convite de outros poetas para formar duplas. Seu talento logo o levou a se destacar, e no início da carreira, foi convidado para cantar em uma rádio em Iguatu-CE, a convite do poeta Antônio Maracajá.

Joaquim obteve sucesso na Cantoria, conquistando bens como casa e veículo próprios. Na década de 1980, mudou-se com os pais para Juazeiro do Norte. Confessa que, apesar de gostar do município, sente a cultura muito enfraquecida, e que nunca conseguiu repetir o sucesso que tinha anteriormente na região que morava.

Apesar disso, a Cantoria é sua única profissão, e como ele mesmo afirma: “só deixo a profissão quando morrer. Não ganho muito dinheiro, mas tenho aquele prazer. continuarei sempre pra frente, cantando, ganhando muito ou pouco, mas não a deixo“.

Para Joaquim, um bom cantador nasce com a “veia poética”. Ele acredita que, apesar de a leitura ajudar, é o talento inato que realmente conta. Para ele, alguns cantadores possuem “veias” mais fortes que outros, evidenciadas pela maneira como seguem as regras da criação poética. Reconhece que não é o melhor, mas está entre os melhores, e sua rigidez com as normas já lhe trouxe conflitos com outros cantadores.

Ele lamenta a atual situação da Cantoria, comparando-a com a vivida há algumas décadas: “A diferença é grande. Antigamente o povo gostava de cantoria, hoje em dia é pouca gente que gosta, ainda tem, mas é pouca gente. Essa juventude não gosta de cantoria, gosta é dessas bandas de forró. Não acabou-se a profissão, mas à vista do passado mudou muito“. Joaquim também critica a falta de apoio das políticas públicas à cultura da Cantoria, observando que os políticos raramente contratam cantadores para eventos: “Os políticos não ajudam o Cantador, eles não convidam um cantador para cantar num comício, convida só essas bandas aí […], o cantador foi esquecido“.

Embora não tenha trabalhos gravados, Joaquim Alves participa de festivais e colaborações com outros cantadores, estando presente em faixas de discos de festivais. Afirma não ter interesse em gravações, pois acredita que o mercado fonográfico para o Cantador Repentista não oferece vantagens, já que as vendas são limitadas.

Joaquim Alves se define como um Cantador que canta o momento e reflete suas experiências, moldando assim sua arte e seu nome.

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(A entrevista aconteceu no dia 16/10/2018, em sua residência, em Juazeiro do Norte-CE, para o projeto De Repente em Ação).