Tudo que se faz com boa vontade, que admira o que gosta, é como se tudo isso estivesse no trabalho de rotina, e tudo que faço é pela poesia.

José Joel de Souza, ou simplesmente Zé Joel, como é popularmente conhecido, é filho de Joaquina Maria de Souza (D. Neném) e Antônio José de Souza. Nascido no distrito de Arajara, na cidade de Barbalha-CE, no dia 30 de dezembro de 1962, Zé Joel se destaca como um importante representante da cultura da cantoria, não apenas para Barbalha, onde reside atualmente, mas para toda a região do Cariri.

Ele começou sua jornada na cantoria admirando e observando profissionais que transformavam as rimas em arte: repentistas, cordelistas e declamadores. Zé Joel conta que, a partir dessa admiração e de conversas com os mais experientes no universo da cultura, do cordel e da viola, foi gradualmente aperfeiçoando-se. Segundo ele, hoje se encontra “não entre os melhores, mas também não entre os piores”. Na época, o poeta tinha cerca de 19 a 20 anos.

Durante nossa entrevista, Zé Joel detalhou o início do seu aprendizado da seguinte maneira: “Eu fui passando por acaso num bairro e ouvi o som de uma viola pela janela. Fui lá e aprendi com esse senhor, Seu Acísio, Repentista Seu Acísio […] aprendi muita coisa com ele. Aí com outro senhor experiente, que eu tive a honra de ser colega de trabalho – hoje ele já não existe mais entre a gente – ele me ensinou muito, inclusive na regra da poesia e das estrofes. Ele dizia: ‘essa rima é a com a, b com b’. Ele dizia na simplicidade dele: ‘Ói, Zé Joel, essa é a irmã dessa, essa é irmã dessa’, e eu fui formando estrofes e cheguei a escrever decassílabos, uma das modalidades mais difíceis, que chamam de vestibular dos poetas”.

Atualmente, Zé Joel não considera a cantoria sua profissão. Segundo ele, “para ser cantador profissional é preciso viajar muito, viver no meio do mundo”. Por isso, ele optou por trabalhar em empresas, atuando na área da saúde, onde ainda permanece. No entanto, Zé Joel nunca se desligou da poesia improvisada; pelo contrário, ele ainda realiza cantorias quando convidado e mantém um espaço importante, a Cabana do Cordel, destinado à discussão da cultura popular poética do Cariri.

A Cabana do Cordel é um espaço cedido pelo próprio poeta para reuniões mensais com outros poetas de Barbalha e Juazeiro do Norte, com um número que varia entre 15 a 20 participantes. Localizada ao lado de sua casa, a cabana abriga centenas de cordéis e inúmeros artefatos que representam e relembram a cultura do povo caririense, incluindo uma viola restaurada do poeta Silvio Grangeiro (falecido em 2015), que foi Embaixador da Cultura do Cariri, título concedido pela UNESCO. Além de servir para encontros, o espaço é visitado por alunos e professores de escolas básicas. O poeta afirma: “O que depender de mim, do pouco conhecimento que tenho, eu transmito para eles, e o espaço está sempre aberto”.

Para Zé Joel, muitas mudanças ocorreram nas cantorias de hoje em comparação com as do passado. Ele destaca que, antigamente, os poetas não utilizavam equipamentos sonoros para projetar o som de suas violas e vozes; era, como ele mesmo diz, “a viola natural e a voz natural”. Além disso, observa que um número crescente de novos poetas está se formando nas universidades, adquirindo muito conhecimento e desafiando os cantadores mais antigos a se reinventarem para competir. Zé Joel brinca: “Até a tecnologia influi, porque se a gente errar num verso hoje já está filmado, já está na internet”.

Ele também relata que a cantoria atualmente tem maior presença na zona urbana, enquanto na zona rural houve um “desaparecimento da viola”. Isso ocorre, segundo Zé Joel, porque na cidade acontecem festivais e encontros de cantadores, além de haver muitos espaços como churrascarias e canais de televisão, que oferecem representação para os cantadores, tanto como convidados quanto como apresentadores.

Para Zé Joel, é essencial a presença da cultura da cantoria nas escolas. Para reafirmar seu ponto de vista, ele compartilha: “Comecei a admirar quando criança essa cultura tão bonita, vendo os cantadores cantando. Eu me lembro que vi um dos cantadores dizer: ‘quem sabe se entre essa garotada não tem alguém que possa seguir a gente?’. E hoje eu não esqueço disso, porque eu ingressei. E nas escolas é que influi, porque são muitos alunos na sala de aula e ali podem ter alguns deles que vão se interessar e fazer alguma coisa; vão fazer perguntas e a gente poderá dizer pelo que passou. Às vezes daquele meio sai um poeta que está faltando ser descoberto, não é?

Zé Joel possui centenas de cordéis lançados, vários CDs gravados com outros poetas, além de um CD com poesias recitadas, DVDs de participações em programas e dois livros que já foram pré-lançados. Sua produção não para. Ao lado de uma máquina de escrever, ele imprime as poesias do seu povo e da sua vida, enchendo de arte aqueles que as leem.

Por fim, o poeta conclui: “Zé Joel faz de tudo pela poesia, procura sempre sobrar um tempinho pra escrever, cantar e declamar. E tudo que faço ainda acho que é pouco. Já enfrentei programas de rádio, mas também é muito complicado por conta de [falta de] apoio e de horários. Mas ainda tenho o sonho de seguir em frente com o programa, pois é muito importante essa divulgação. E me resta agradecer a visita de vocês, e saibam que o espaço Cabana do Cordel está sempre aberto

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(A entrevista aconteceu no dia 24/03/2018 na Cabana do Cordel, na cidade de Barbalha-CE, para o projeto De Repente em Ação)

Contato do Poeta para Shows: (88) 99639.7404