Um defensor de todas as culturas populares, que vai levar a bandeira da cultura popular onde for.

Marlon Torres é Filho de Antônio André de Souza e Maria Vilany Torres, nascido na cidade de Crato, no dia 07 de maio de 1986. Marlon conta que seu primeiro contato com a poesia foi na casa de seu avô Alfredo André, na cidade de Salgueiro-Pe, onde viveu por muitos anos com sua família.

A casa de seu avô era passagem para muitos cantadores, e o mesmo gostava muito de cantoria. Além disso encontrava-se frequentemente lendo cordéis, possuía uma grande quantidade destes, que partiam dos clássicos autores como Leandro Gomes de Barros, Martins de Athayde, José Camelo e os decorava enquanto ia declamando-os à caminho da roça. Conta que o mesmo era capaz de decorar com muita destreza os versos que ouvia, “antigamente ele ia pra uma cantoria e conseguia decorar mais ou menos 70% do que era cantado, de todas as estrofes”, e foi nesse contato que foi se construindo em sua vida o espírito poético.

Em 2002, já com 16 anos, sua família mudou-se definitivamente para a cidade de Crato – CE – cidade em que nasceu -, nesse tempo conta que já tinha muito contato com a cultura popular e que gostava de ler os clássicos sonetos – no qual o poeta diz ainda escrever -. Cursando o ensino médio, envolveu-se, através do Grafite, com a cultura Hip-Hop, dentre elas o Rap improvisado, “eu sempre tive aquela agonia no juízo que todo cantador tem, a agilidade do pensamento, aí decidi fazer o rap improvisado”.

Aproximadamente 6 anos depois o poeta passou a conhecer alguns cantadores repentistas na cidade de Crato, e, levado pela curiosidade e das lembranças de suas raízes, começou a pesquisar sobre essa arte. “O que me ajudou muito foi a questão da internet, que eu fui atrás de modalidades, me aprimorar enquanto a questão de tônicas, de você saber onde encaixar as linhas de cada estrofe, os estilos, a toada, o toque, etc.”.

Atualmente com 31 anos, Marlon Torres faz da Cantoria sua única profissão, profissão esta que atua profissionalmente desde 2010. Na ocasião explicou o que exatamente marca o início profissional de um cantador na arte do repente, dizendo que “o cantador repentista pra cantar nos lugares ele pede, enquanto você só pedir você não tem preferência do público, agora quando o público lhe procura aí você já nota que a coisa já tá melhorando, que o pessoal tá vendo que você tem gabarito pra fazer a coisa”. Entretanto, antes da cantoria ser sua principal profissão, Marlon foi professor temporário de Matemática na rede estadual e professor de física em curso de pré-vestibular no Ensino Médio, entre os anos de 2007 à 2014, até que “no segundo semestre de 2014 eu saí da educação e abracei a viola exclusivamente, e tô aí até hoje”.

Formado em Engenharia de Produção pela Universidade Regional do Cariri (URCA), e aluno de Jornalismo na Universidade Federal do Cariri (UFCA), o poeta revela que quando começou a cantar sentia como se de alguma forma houvesse um muro – um vidraça – que o separava dos outros cantadores, diziam: “ele tem faculdade”, “esse menino tem letra”. Por ter formação acadêmica houveram – e ainda há – outros cantadores que afirmam que ele canta decorado, conta. “Eu percebi que quando você canta com alguém que tem o nível escolar menor do que o seu você tem que saber também reduzir o nível, né? Assim também como eu já me surpreendi muito com muitos outros cantadores, como o Zé Francisco, por exemplo. Além disso existe um outro aspecto, o de você ter que cantar bem porque está numa universidade, então eles tem essa questão de ‘Você um cantador de faculdade, tem universidade, e você num sabe cantar determinados assuntos e tal’”.

Quando apontado como cantador da nova geração e questionado sobre as diferenças que há na cantoria de hoje comparada às cantorias de algumas décadas atrás, Marlon afirma que “Na essência em si a cantoria não mudou nada, existem alguns acréscimos, modalidades inventadas, modalidades que os cantadores atuais injetam […], enfim, coisas que agregam, mas não perdem a essência”.

Por outro lado declara que a única diferença que se vê na cantoria de hoje para as de algumas décadas atrás está no modo de cantar, “o cantador está cantando de um modo mais apurado”. Segundo ele, o cantador tem sentido a necessidade de adquirir mais conhecimento para inserir esses conhecimentos em suas cantorias, “não é uma coisa solta como era antigamente”, afirma. Hoje, revela o poeta, a platéia está mais apurada, muito mais refinada, então o cantador deve estar atento ao que se canta e o que se fala. Outro aspecto é o da melodia, “hoje o jeito de cantar é um jeito mais bonito, antes era uma cantoria mais lenta, mais devagar, alguns cantadores não prezavam em tocar o instrumento bem, de todo jeito que se batia tava valendo, hoje não, hoje o cantador se preocupa tanto com o cantar bem, cantar bonito e tocar também”.

Sobre a parte de incentivo por parte das políticas públicas considera que este “é muito pouco, quase nenhum”, assegura que se o cantador não for atrás por conta própria dificilmente conseguirá ele sair do lugar. Além disso entristece-se que numa região como o Cariri cearense, onde as manifestações culturais estão presente em peso, tanto na questão da oralidade como na escrita, não se enxerga o incentivo vindo por parte das ordens públicas, sente que há uma certa rejeição quanto ao cantador repentista. Por outro lado considera que isso talvez nem seja por falta de interesse ou falta de conhecimento desses gestores públicos, mas que tal situação está mais ligado à inocência por parte destes. “Se soubessem eles a dificuldade que é trabalhar, produzir algo de improviso por tantos tempos assim, ou requinte que o cantador tem de criar algo na hora, eu acho que seria muito mais valorizado”.

Segundo ele o mercado aqui na região do Cariri cearense encontra-se concentrada na Zona Rural, mas também se encontra na Zona Urbana, porém, não na mesma frequência. Diz ainda que aqui na região é comum encontrar uma grande quantidade de Canções, diferente de outros lugares que prestigia-se muito mais a questão do improviso em si. “Tem lugares aqui no Cariri que você vai prum show de cantoria e ela se resume em três coisas: uma sextilha pra abrir a cantoria, canções gerais, um desafio e um coqueiro da Bahia pra acabar, pronto! Você canta três modalidades de improviso e o resto é tudo canção e poema. Porquê? Porque os próprios cantadores estão colocando isso como sendo parte da cantoria […] vai chegar um tempo em que as cantorias vão acabar e vão ficar só as canções”.

No decorrer da entrevista revelou que já teve a experiência de realizar palestras em escolas e universidades a respeito do tema da cantoria e relata que 50% da turma que o assistia sequer tinha visto um cantador repentista, e que não se espantava com isso, sendo que isso já é visto com certa normalidade, mesmo esses 50% sendo da região do cariri e/ou da região nordeste. Avalia que isso é problema de todos e se questiona: “como é que eu nasco numa região aonde praticamente o foco popular, culturalmente falando, é isso e eu não sei o que é, não faço ideia do que é aquilo? É muito estranho”. Por outro lado diz não julgar, por também considerar uma questão de inocência, porque isso não foi apresentado nas bases curriculares.

No começo do ano estará lançando um DVD em parceria com o cantador Rafael Neto, Repentista Piauiense. Conta que um dos organizadores do Festival de Violeiros do Norte e Nordeste em Teresina viu-se surpreendido com a apresentação de ambos os cantadores e ofereceu a proposta de gravar um DVD. O mesmo será gravado na casa do cantador Rafael Neto, em Teresina – PI.

Marlon Torres Considera-se um amante da cultura popular, não somente da cantoria, mas de todas as culturas populares, “um defensor de todas as culturas, que vai levar a bandeira da cultura popular onde for”.

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(A entrevista aconteceu no dia 14/11/2017 no campus da Universidade Federal do Cariri, em Juazeiro do Norte – CE, para o projeto De Repente em Ação).

Contato do Poeta para Shows: (88)99713.9672